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Todos os textos © por Igor Barbosa ou devidamente creditados.

3/30/2004

Ingerir substâncias desconhecidas dá nisso 

Vou criar uma nova linguagem universal. Vejam que beleza:

Xarxamariola, u-gú. Falim faletava, não disse? Os sinad'sa diceh nocs ed, sai c'nats bus. Rir? É gni.

Agora, as explicações. Xarxamariola é algo que existe de verdade, veja.
U-gú é alguém de língua presa cantando "Song 2", do Blur. Ah, não vou dar o link, se quiser procura.
Falim faletava..., com itálicos no sotaque, não é, mas podia ser uma frase do Baino Meloso.
O resto significa: "A ingestão de substâncias desconhecidas dá nisso, com certeza. Duvida? Seu bobão".

Que acham?
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Eu acho que 

Don Rosa é o melhor desenhista da atualidade.

E que Henry Miller é um ótimo escritor, exceto quando descreve o que faz com os dedos e outros cilindros que recebeu ao nascer.
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3/26/2004

Rio de Janeiro 

Todas as ruas, todos os bairros em São Paulo são iguais. Meu Deus, quantos viadutos. Eu preciso mesmo ir lá de vez em quando para lembrar. O Rio é diferente, uma cidade muito diferente de São Paulo, se as vemos em sua totalidade; mas o que é mais verdadeiro é que o Rio de Janeiro é internamente muito mais desigual, os contrastes são muito mais violentos.

Se fosse possível teletransportar uma cobaia para São Paulo, esta jamais identificaria em que parte está, no momento em que chegasse. Sair de São Paulo, de automóvel, é impressionantemente difícil; ruas e mais ruas, prédios e mais prédios, e subitamente a estrada que leva para casa - no meu caso. No Rio, cada sub-bairro e cada rua é diferente. Cada lugar tem sua atmosfera. Assim é a lógica interna da cidade. Aliás, acho que o lado cartão-postal do Rio é condicionado ao seu lado cenário de "Cidade de Deus". Alguém menos impressionável poderia dizer que não via - entre nós, eu não vejo - nada de maravilhoso em Copacabana; mas como pode não haver algo de maravilhoso em Copacabana, se existe aquele outro mundo tão próximo, aquela tragédia que é o ingrediente principal desta cidade?

Os dois lados de que falo - as duas cidades, maravilhosa e pestilenta - não são de forma alguma partes isoladas de um todo; ao contrário, formam um amálgama, são como yin-yang. O Rio de Janeiro é um mendigo bêbado: Sujíssimo, mas feliz. Sua porção mais bela está inevitavelmente contaminada pela feiúra de sua porção feia, contaminando-se mais a cada dia. Esta cidade é um bebê sujando o rosto com as próprias fezes - e como sabemos, um bebê só faz isso se não limparem aquela parte de sua anatomia por onde as fezes saem. Todos mostramos o rosto por orgulho, todos escondemos as fezes por vergonha. O Rio de Janeiro precisa limpar-se antes de mostrar o rosto.

É isto o Rio de Janeiro: Uma cidade na qual podemos ir do Paraíso ao Inferno, e vice-versa, com o dobrar de um quarteirão; o que não é bom nem mau, é apenas uma dicotomia. Cada um tem seu exemplo deste tipo de transição; o meu é ir da UERJ, no Maracanã - Ou seja, o inferno - à Quinta da Boa Vista, que não chega a ser um paraíso, mas é bastante agradável para tardes de calor e poeira. É isso que esta cidade possui de mais belo: A facilidade com que se pode fugir do calor e da poeira para onde tudo é vento, sombra e água mineral.
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3/23/2004

... 

Luiz Gushiken Myagi anunciou que se o efelentíssimo falou, ninguém tem o direito de falar que está errado - foi isso mesmo? É porque eu não tenho tempo de assistir televisão ou ler jornais, por enquanto quem me informa é o David Butter.
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3/19/2004

O Poder da fofoca 

A maior força da comunicação humana é a fofoca, capaz de reverter opiniões, despertar interesses e até vencer discussões, sem que o fofoqueiro precise de razão. A fofoca tem a capacidade de abater das maiores alturas de seriedade qualquer discussão, e de exasperar pessoas em geral pacientes – Talvez seja uma característica dos grandes debatedores ouvir, à guisa de argumento, uma maledicência e manter a dignidade de seus próprios argumentos, em vez de mandar à fava a besta quadrada com quem tentava, instantes atrás, uma conversa decente.

A fofoca pode surgir em qualquer discurso, a qualquer momento – Muitos professores de história não resistem às galináceo-engorduradas mãos de D. João VI, ao minúsculo pênis de Napoleão, às bebedeiras de qualquer ex-presidente. Eu, que acho que a educação é livre e cada um deve se esforçar em aprender o que quiser, até diria que se os alunos realmente têm interesse em aprender tais maçadas, que os deixem em paz com os professores que acham que estão cumprindo esplendidamente seu papel. O que eu acho estranho é que estes mesmos professores insistem tanto na condução popular da História, no exagero de importância que o ensino tradicional de história atribui às figuras mesmas sobre as quais fofocam, que deveriam lembrar que os gases de qualquer ministro não fazem nenhuma diferença para a História, o que normalmente leva a concluir que não deveriam ser mencionados.

Mas é justamente aí que eles mais se contradizem; o discurso, se declaradamente não procura compreender a personalidade dos indivíduos cujos nomes passaram à História, baseando-se na falta de importância de tal compreensão, afirma freqüentemente os defeitos de tais personagens, nem sempre assumindo nisto um ataque, tudo coroando com seus rótulos bonitos – Por exemplo, desmistificação. É preciso, segundo eles, que os alunos não vejam em D. Pedro I o autor da independência do Brasil – O que, afinal de contas, qualquer um deduz sozinho. E por não ser o autor da independência, não é um herói, pobre do povo que precisa de um deles! Então não precisamos reconhecer a coragem, o denodo, a sinceridade com que se entrega à luta pela independência do Brasil; e também não precisamos perder tempo com suas amantes, pois nada disso fará qualquer diferença.

O discurso-fofoca, sendo a fala de quem não agüenta mais ser refutado, arrasta o discurso para o campo da irracionalidade – onde não pode haver argumentação, só pode haver crença. Não há resposta possível, a não ser encerrar o assunto dizendo que, querendo alguém acreditar em algo, acredite livremente no que lhe parecer melhor, e em pleno uso de sua liberdade, rejeite a razão.
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Meu primeiro poema concretista 

Tá tudo contra
o
Tatu do contra.
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3/17/2004

Pilhas 

Pilhas alcalinas
São retas meninas
Em um oratório

Pilhas Duracell
Têm sabor de mel
Com arroz arbóreo

Pilhas Rayovac
Fazem do Mandrake
Um mago notório

Pilhas Energyzer
Pílulas da Pfizer
Salvam o casório

Mantêm os dentistas
Pilhas de revistas
Em seu consultório.
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3/12/2004

Portugal 

Este blog e seu autor declaram-se amigos de Portugal. O profundo preconceito sofrido pela nação à qual devemos nossa língua é absolutamente injusto. Atribuir à colonização portuguesa nosso atual desmazelo é falácia; a Índia foi colonizada pela Inglaterra, tanto quanto os Estados Unidos. Falei em falácia, reconheçamos: Os portugueses são os reis da lógica. Tive como professor de lógica clássica um Português; um primor.

Digo tudo isso, e diria mais, apenas para protestar (que palavra feia) contra o anti-lusitanismo que acomete nosso país. Eis tudo: Enquanto busca-se modelos em italianos, o maior vício nacional, pelo menos para as classes mais pobres, perde-se o que temos de mais invejável; e aqui falo de virtudes pouco valorizadas hoje em dia: Honradez, heroísmo, equilíbrio, entre outras.

A nação portuguesa foi construída como um símbolo e fruto da luta pela liberdade da Europa, mérito não exclusivamente português, eu sei. Portugal já deteve o maior conhecimento tecnológico em todo o mundo. Portugal esteve à frente das grandes navegações. E, em qualquer momento, o amor de um português à terra sempre foi um exemplo para aqueles que hoje querem ser patriotas.

O melhor caminho para a literatura brasileira, creio, é a assimilação de valores artísticos portugueses. Assim seremos sinceros; assim viveremos nossa vocação, e que vocação! Seremos grandes quando quisermos ser grandes, assim como querem ser grandes os portugueses desde o começo. Sejamos grandes como foram Gil Vicente, Camões, Eça. E sejamos verdadeiros, firmes e invejáveis.
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O Paraíso é um desenho animado 

O Paraíso é como um desenho animado: Coisas divertidas e inesperadas acontecem, mas tudo permanece sempre igual. Os melhores desenhos animados têm esta característica em comum com a eternidade: Homer Simpson pode emagrecer, mas volta a ficar gordo; Cebolinha nunca morrerá por causa das pancadas que leva; ninguém envelhece e, sobretudo, ninguém morre.

Não precisamos lidar definitivamente com a perda em desenhos animados. Os momentos mais decepcionantes de Os Simpsons foram as mortes de Maude Flanders e Bleeding Gums. Da mesma forma, os habitantes - ou personagens - do paraíso estarão sempre lá, nós nunca os perderemos. É por isso que não consigo acreditar em reencarnação: O paraíso não o pode ser se até lá podemos perder a companhia de quem amamos. É exatamente o tipo de morte que o Alexandre Soares Silva narra em seu livro Morte e Vida Celestina. Só que, para que o paraíso seja um paraíso, não pode existir morte por lá.

A morte é como descobrir que aquele livro que você não conhecia e viu no sebo por um real, mas não comprou, é uma obra-prima. Isso é infernal - a perda é infernal. O paraíso é ganho e preservação, pela piedade de Deus. Não precisaremos passar por isso na outra vida. Só é preciso crer.
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3/11/2004

Limeriques 

Um blogueiro achava chique
vestir-se como um mujique
e manter o cavanhaque
ensopado de conhaque,
escrevendo um limerique.

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Minha prima achava belo
o mordomo do castelo,
e usou todo seu tato
para minar-lhe o recato:
O rapaz era donzelo!
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Mamãe, estou ficando famoso 

Cada dia que passa, fico mais bem freqüentado e recomendado. Desta vez foi o Gladstone, devidamente retribuído por tamanha gentileza. Palmas para ele, e antes que alguém pergunte, somos parentes distante e não foi nepotismo.

Gladstone, keep your eyes wide open and may us twirl the winch.
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3/10/2004

Da série crimes estúpidos - primeiro episódio 

Uma mulher americana foi presa ao tentar pagar uma conta de uns mil e poucos dólares, num supermercado. Ela pediu troco. É sério.
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Entrega de documentos atrasados - Quem é Igor, ou quem sou eu 

Meu nome é Igor Barbosa, tenho 19 anos, meu pai parece o Luiz Gonzaga e minha mãe parece a Isabelle Adjani, com alguns anos a mais. Meu sangue azul vem dela: Valois de sobrenome. Sou alto e bonito (ver a descrição de Humbert, em Lolita). Moro mal, tentem adivinhar onde.

Estudo Filosofia, na UERJ. Não é tão bom, mas no final vale a pena; e eu ia fazer o quê, direito, economia, jornalismo?

Aprendi rudimentos de lute/violão clássico no início da adolescência. Sei algo de piano, também. Sou um excelente barítono ou um mau tenor, à escolha.

Durante a mesma adolescência conheci minha atual namorada, para quem ficava horas tocando Bach tentando me exibir. Ela estuda Artes e estamos juntos desde julho/2001.

Não tenho certeza sobre a melhor coisa que já li - Acho que foi Crime e Castigo, talvez Dom Quixote. Também não sei quanto livros já li, mas acho que devia ter lido mais. Sinto-me atrasado e tento ler o mais que posso.

Sei dar nós de gravata, cozinhar, cobrir grandes distâncias a pé ou de bicicleta, obrigar computadores e outros eletrônicos a me obedecer, fingir que sou gay, lutar desarmado ou com bastões, socos-ingleses e espadas, montar camelos, beber 2 litros de água de uma vez, fotografar usando câmeras digitais, hastear bandeiras, ficar sentado e sem fazer nada em um banco por muito tempo, contanto que tenha sombra, vento e água fresca. Se puder ler, melhor. Mal sei nadar, escrever eu tento.

Não sei dirigir, soldar, tocar em carne crua - se for vermelha, nem assada, nem frita, nem cozida - desenhar freehand, fazer panquecas nem beber cerveja pilsener, exceto as drafts.

Algo mais?
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Sobre cotas 

Pratica-se, obrigatória ou voluntariamente, a distribuição de negros, deficientes físicos, índios e demais por cotas em universidades públicas, preenchimento de vagas de emprego e por aí afora. Porque não, pergunto, criar cotas também em presídios? Presumo que as pessoas vão para universidades por mérito, assim como as que são presas. Se o merecimento não é mais um critério para o preenchimento de vagas em instituições sustentadas pelo estado, o critério que o substituiu - digamos, distribuição - deve ser aplicado a todas aquelas instituições.
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3/09/2004

Dundas in Rio 


Quinta-feira, dia 11 de março, lançamento do "Morte e Vida Celestina", do Soares Silva.
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3/08/2004

Deixa-me saltar ao fundo deste lago 

Como uma pedra arremessada no meio de um lago, meu desprezo – seria, de fato, desprezo? – a atingiu entre as sobrancelhas, causando um estremecimento concêntrico, invisível exceto para mim e para ela, se espelho houvesse por perto. Com certeza, ela acharia graça, e riria elevando as espáduas, como somente ela sabe fazer.

Mas uma pedra arremessada no meio de um lago causa ondas concêntricas e desce ao fundo, lodoso ou arenoso, e lá fica, sem que o lago dê a mínima para sua presença. Ela sempre soube fingir muito bem que era um lago. Seu modo de cumprimentar quase me afogou, e ela estava, como era de se esperar, muito menos rasa do que quando a deixei.

Imbecil, covarde: Clichês inevitáveis. Mudei ao longo dos dias que passamos juntos; tornei-me um mentiroso, é essa a verdade. Como explicar minhas flutuações de caráter? Ora, não seriam as flutuações dela a causa? Havia algo que eu pudesse dizer em minha defesa? Se houvesse, seria:

-Ah, se o teu cheiro de baunilha fosse sempre o mesmo! Mas não, o costume te deu um novo aroma, algo como massa de modelar posta na geladeira. Se a cor de teus olhos não mudasse! A mentira inicial é tua.

Mas não havia; estas palavras são ilusão. Nenhuma delas existia no momento em que eu tentei saltar ao fundo do lago. E neste instante rejeitei toda distância, e é a ela que quis falar. Não me servia de nada o choro, não me servia a mentira do desprezo. A ela, apenas, me dirigi: Deixa-me saltar ao fundo deste lago; quero recuperar a pedra, lapidá-la e pô-la em tua coroa.
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3/04/2004

O efeito Mozart 

Na Universidade da Califórnia, em 1993, dois pesquisadores realizaram a experiência de submeter alguns alunos à audição de uma determinada obra de Mozart, verificando um aumento temporário em seus raciocínios. A teoria foi refutada várias vezes, e alguém chegou mesmo a provar que ouvir Mozart deixa as pessoas mais burras. Na essência, o Efeito Mozart é uma idéia parecida com qualquer outra que tente estabelecer uma ligação entre o desempenho do raciocínio e o desempenho fisiológico do cérebro, e daí estabelecer condições para a melhoria deste desempenho – ouvir Mozart, climas frios, estar de cabeça para baixo, não dormir.

Para qualquer conclusão científica ser válida, devemos apresentar suas condições de falseamento. Neste caso, é óbvio que o contrário seria "Mozart emburrecendo a longo prazo estudantes"; no entanto, eu prefiro pensar em "Ouvir Música Sertaneja fortalece os neurônios e faz pensar melhor". Façam, então, a experiência: Na porta de um show do Daniel, perguntem às pessoas que vão saindo, por exemplo, o que elas acham do excesso de monóxido de dihidrogêncio nas chuvas.

Vejam bem, o problema não será o desconhecimento de química, e sim a falta de desconfiança. Bom-Senso é saber distinguir entre o verdadeiro e o falso. Ninguém resolve perguntar algo a ninguém apenas para dar ao interrogado uma chance de exibir sua esperteza. Quem não sabe disso, acredita em qualquer coisa, e ao ouvir falar do excesso de monóxido de dihidrogênio imediatamente concluem que é ruim - e, em geral, já conhecem todo o discurso que se segue, do qual pretendo poupá-los. O problema é justamente aquela conclusão imediata - existem pessoas que não podem ouvir "anglo" sem pensar imediatamente em "saxão";

Façam o mesmo na saída do Don Giovanni e... bem, talvez não seja muito diferente. O fato é que ninguém sai da sala mais inteligente do que entrou – e geralmente, se entrou querendo ouvir Mozart, já nesta entrada era mais inteligente do que quem buscou o Daniel-Cueca. Ouvir Mozart é conseqüência, e não causa, de inteligência.
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Onde estão os bebês pombo? 

EU descobri onde estão os bebês pombo.
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3/03/2004

Lavação mútua 

Mais um linkador é linkado - Palmas para David do Alto Volta, devidamente alocado à direita, que eu não ponho ninguém à esquerda.
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Novo Sistema de Comentários 

Troquei o sistema de comentários por sugestão do Márcio Guilherme e agora só falta saber quem vai estrear. Os comentários antigos foram, é óbvio, devidamente documentados por mim. Muito obrigado a todos que utilizaram a antiga bomba para iluminar um tantinho minha mente; continuem com esta, que promete ser bem melhor.
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Um blog lava o outro 

Linkado o blog Minas sem assunto, caso inédito e inacreditável de blog que me linkou antes de ser linkado. Palmas de mãos e de louros para coroar tamanha gentileza.

O próximo a receber as palmas pode ser você! Para ganhar um linkzinho aí do lado e aumentar na média em 0,0013% as visitas do seu blog, basta fazer o mesmo e linkar este humilde e genial Gendarme.
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O melhor julgador 

Disse o Fernando Henrique que o o melhor julgador é o amigo. É verdade, Fernando. Eu mesmo promovo, pelo menos uma vez por ano, meu trial, onde todos - defesa, acusação, juíz, jurados, testemunhas - são meus amigos. Nunca fui, e ninguém jamais sentiu minha falta, sempre me julgando, alegremente, à revelia. Quem quiser comparecer ao próximo julgamento, por favor, manifeste-se; mas atente para o fato de que passará a constar entre meus amigos, entendendo porque estou condenado, pelos últimos cálculos, a mil e treze anos de exílio na Sibéria.
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Da necessidade de ler 

É necessário ler para viver, mas não para entender, porque isso é impossível. Tenho um amigo que leva esta idéia às últimas consequências e se recusa a ler a maior parte dos textos filosóficos disponíveis, pois toda conclusão a que outra mente chegou também pode ser alcançada por ele. Pensando nisso, lembrei da minha primeira conclusão filosófica, nada original, mas nem por isso plagiada: Acreditar em Deus é melhor, pois se for verdade, a eternidade será ótima para mim; e se não for, tanto faz, já que eu não vou estar lá para ver.

Concluí isso aos seis, sete anos - bem depois de Pascal, que disse mais ou menos o mesmo: "Se ganhardes, ganhareis tudo; mas se perderdes, não perdereis nada". Sócrates também diz algo parecido na Apologia de Sócrates.

Às vezes, ler algo parece impedir o leitor de pensar aquilo por conta própria - e é assim mesmo. Mas na verdade ainda há muito a ser escrito; é por isso que devemos ler - para não reescrever a obra alheia. O que uma pessoa conclui por seu próprio raciocínio também é dele; sendo, no entanto, uma conclusão válida, poderá ter ocorrido a mais de uma pessoa, e talvez alguém já a tenha escrito - demos, então, o crédito e o respeito aos mais antigos. Eles também sabiam o que estavam dizendo.
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3/02/2004

Entega de documentos atrasados - sobre a frasezinha em francês lá em cima: 

Ela aparece em Crime e Castigo. Eu lembro do erro da concordância que a Isabel apontou, mas ainda não sei se foi a tradução ou se a expressão aparece assim no original. Vou conferir e esclareço. Ah, sim, para os não francoentendentes:

"Rebentem-se, cães, se não estão contentes"


Well, meio duro, reconheço. Talvez eu mude; aceito sugestões.
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Entrega de documentos atrasados - O que é Naïf Gendarme: 

Gosto de arte naïf; gosto de pensar que a arte que produzo é naïf. Não acho justo associar naïf com técnica tosca; o elemento ingênuo precisa aparecer na mensagem antes de tudo. Vejo traços naïf em Shakespeare, por exemplo. Já comecei a escrever um livro infantil e acho esta uma orientação artística muito mais digna e interessante do que as monomanias literárias da atualidade.
Gosto da palavra Gendarme, que li pela primeira vez quando eu ainda era uma criancinha (não faz muito tempo). Desde então, queria ser Gendarme. Neste blog, pelo menos, realizo meu sonho.
Naïf Gendarme é a junção das duas idéias - policial ingênuo. Brincar de polícia. Confesso que muitas vezes tenho saído desta linha sobre a qual me propus caminhar, predominância do Gendarme sobre o Naïf - tenho que pegar estes bandidos! Mas a intenção é reequilibrar a balança; é verdade que os bandidos são muitos, mas ainda assim prefiro manter a alegria - e, convenhamos, não dá para ser feliz sem ser naïf.
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Tragédia 

É forte, mas é isso. O que dizer de uma obra em que a parte mais interessante é a descrição de um sósia maltrapilho do Ray Conniff ? O mundo de Sofia é um erro do início ao doloroso fim. Provavelmente Jostein Gaarder nunca encarou um Ortega y Gasset antes de se aventurar a escrever. É uma pena, porque isso evitaria a quantidade de tragédia que despeja em cada capítulo. O livro não tem boa vontade e muito menos história. Ele tenta, de alguma forma tortuosa, seguir Jorge Amado - mas não é preciso dizer que não chega a lugar algum. O enredo parece ter sido construído da inveja descontrolada de um Ferreira Gullar iletrado. Os personagens se resumem a tijolada de babaquices pseudo-filosóficas - o mais complexo deles se qualificaria no mundo real como um vesgo em estado comatoso.
Pode parecer crueldade, mas não é. Desde que avistei a nuca do Wando , isso foi o que mais afetou minha canalhice . Só consegui terminar o livro porque tinha a perspectiva de reler um Igor Barbosa assim que chegasse ao fim. E se a história tivesse duas páginas a mais eu acabaria acreditando que eu sou burro . Se ao menos Jostein Gaarder escolhesse por caminho o Narco-Judaismo , o sacrifício seria menor e o supremo esforço de acompanhar tal prosa acabaria querendo menos estrago aos meus sofridos neurônios.
O mundo de Sofia tenta nos manter a um buraco sem fundo, feito de sujeira e cercado de sensores vãos.

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Sobre um maneta hispânico sem banho há anos 

Confesso que não li Dom Quixote . Mas além de beleza, wit , modéstia e superioridade caucasiana, tenho o poder da mediunidade que me garante o direito da dor injustificada.
A exemplo de Nietzsche , (que também não li, apesar de fingir conhece-lo como O rabo do macaco ), Dom Quixote parece que foi escrito por uma necessidade que Cervantes tinha de, digamos assim, escrever. Agora, vamos nos ater um pouco nesse assunto específico, que é a necessidade da escrita. Por que um maneta hispânico sem banho há anos , decide escrever meleca ? Apesar de não ter lido A catástrofe estilística da obra, é fato notório que eu detenho exclusividade na arte de escrever meleca . Não aceito qualquer ameaça de concorrência.
Eu poderia declarar aqui que O Clodovil é homem , mas tenho que arranjar outra forma de enganar o leitor e encher lingüiça. Por isso exercito minha bipolaridade (que, aliás, é meu cartão de visitas) e Minha empáfia olhando coisas que desconheço e escrevendo frases de efeito como: a calhordice de Homero é constatada no momento em que a obra resiste a se integrar ao Neo-sionismo e se dispersa em relógios adolescentes.
De qualquer forma, voltando à Dom Quixote : não se trata de um Igor Barbosa , nem de um Zé das Couves . Aliás, essa comparação que tentei fazer só expõe minha limitrofia, porque não posso comparar uma obra que não li. Mas, para que se preocupar com coerência e raciocínio? Se Cervantes for tão bunda mole quanto eu, pelo menos arrumo uma boa briga.

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A seleção de desgostos estéticos de Nabokov 

Não foi má-vontade - peguei o livro com wit . Juro que tentei conter minha preguiça . Mas logo nas primeiras páginas constatei que os armários desequilibrados de Nabokov jogavam a trama num clichê Parnasianismo sem precedentes. Lolita é tão atraente quanto A canela do Chateaubriand . A obra se vale da ferocidade do leitor, que só consegue chegar ileso ao final da história se acreditar que a Nicole Kidman é menor que o Tom Cruise
Mas vamos nos dedilhar numa análise detalhada: os personagens, por exemplo parecem ter saído de um Igor Barbosa distorcido chegado a um energúmeno com celulite no couro cabeludo . A história é, do começo ao fim, a seleção de desgostos estéticos - e o desfecho, até para os corações mais bondosos, não passa de palhaçada . Mesmo quando remete a Leibniz , o livro o faz de forma medíocre. Nabokov faz parecer que um Paulo Lins escreve. E, ao mesmo tempo, faz Keats rolar no túmulo.
Não há formas de ser condescendente: a dormência que a personagem principal exala deixa um perfume pascácio em todas as páginas dando um muro de obtusidade que macula de forma grotesca qualquer forma de literatura.
Conselho: se você encontrar Lolita nas prateleiras, não hesite, fuja.

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3/01/2004

Do hábito de condenar sem julgar - Molequinhos 

Molequinhos são todos aqueles que condenam sem julgar.

Se a Inquisição matou um monte de bruxas, nós todos olhamos com desdém, e fazemos muxoxos de reprovação - Que coisa feia, Igreja Católica Apostólica Romana!
Mas se os regimes comunistas mataram um monte de oposicionistas, alguém acha feio? Claro que não.
Se alguém tem fé em Deus, é um retardado.
Mas se alguém tem fé em Che, é conscientizado. Aliás, que palavra horrível...

O Brasil é um monte de gente que vota no Lula, sem saber que votando no Lula está na verdade elegendo o PT - e sem saber o que é o PT. O Soares Silva escreveu que o Brasil desceu ao nível mental de office-boys dos mais mal-educados, e isso é verdade - Porque somente molequinhos podem gostar do que está acontecendo neste país.

Molequinhos, sim. Molequinhos querendo me ensinar Geopolítica, história dos EUA, raízes do Brasil. Molequinhos mais novos que eu, molequinhos mais velhos que eu. Molequinhos de retórica canalha, sofistazinhos. Nunca respondem seus contra-argumentos, não param de repetir seus mantras.

Molequinhos que querem dar aulas de história, vão investigar o que os governos de tendência comunista fazem com os cidadãos de seus países. Vocês vão voltar brancos como cera.
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Explicações 2 

Alienado é quem não é de esquerda. Segundo a esquerda, acho.
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Explicações 

Para quem está esperando que o genial Carlos Marques "destile sua ironia ácida" em suas "críticas viscerais" às "classes opressoras", tenho que cumprir a triste missão de avisar que ele não vem mais. Disse que o público (Público? Apareçam! Eu sei que vocês estão aí) deste blog é "alienado".

E eu escrevi o post com maior concentração de aspas da história. Que horror.
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